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VERNAIDE WANDERLEY
( Paraiba– Brasil )
Vernaide Wanderley é escritora e poeta, sertaneja da cidade de Patos, PB.
Na década de 60 migrou para o Recife, onde reside até hoje. Exerceu suas atividades profissionais de pesquisadora social sempre na Fundação Joaquim Nabuco, FUNDAJ, dedicando-se, nos últimos 10 anos, naquela Instituição, ao estudo geo-sócio-antropológico do espaço e lugar Sertão, a partir de obras literárias.
Participou do grupo de escritores que reabriu a União Brasileira de Escritores de Pernambuco (1985) UBE- Recife, PE. Participou do grupo de base do Movimento Pirata (1980-1984).
Publicou: Tatuagem, poesia, 1981; Litorgia, poesia, João Pessoa, 1987; Duas histórias de guia, (para crianças) Recife, 1992; Rota dos Inocentes, (conto-poema) Recife, 1992; As Raízes que invadiram a Casa (ficção), São Paulo, 2012.
Biografia em: http://www.domingocompoesia.com.br/
Redemoinhos de luz
Brancos seixos
molhavam de prata
o negror do caminho,
mas eu sentia medo
do chão contorcido,
pisado por homens e mitos
que saltavam da memória.
Pingentes de estrelas
faziam-me fada ou princesa,
presa na mão de um quixote
de calças curtas e esporas,
chutando os seixos de prata
que o rio mais cedo rolou
e escondeu no seu dorso vazio.
ÁS MENINAS DE RUA
De vocês,
roubei a alma exposta às chuvas,
não porque o granizo
perfurasse minha casa e telhados,
mas por imitar espantalhos,
afugentando canários nas sobre manhãs.
Tudo isso foi pouco
para enrijecer minha face de palácio,
assim lhes trago nesses versos
o azul do meu vestido de fustão,
pastéis de todos os Natais,
os carrocéis e seus cavalos brancos
Tudo isso foi pouco
para enrijecer minha face de palácio
assim lhes trago o filho que perdi
e os braços de niná-lo
o hímem adolescente
e a verdade aprendida com as fadas.
AFAGOS DE PABLO
Pablo tentou fugir ao chamado da graça
—castigo venal derrubando o destino
Ele se desfez do paletó de nuvem,
carregado de música e retalhos de terra,
símbolo de sua missão no mundo
— peregrino do canto rouco das serras.
Vestiu-se de algodão e prata,
ornou a fronte com a tiara ruiva das caatingas,
pendurou nos dedos sua mais nova composição
e afiou a viola de sete cordas sobre a amada.
O AMOR QUE FINDA
Lembro dos cachos anelando as tardes
do riso antecipando verde nos outeiros
da menina lúdica acordando paqueviras.
Vejo-a agora escrevendo versos sem viço
negando visto nas canções de outrora
querendo abrir clareiras em manhãs desertas.
Se pudesse lhe daria minha dor vivida
(dor de amor que já partiu em junho)
para não perder a fé que desabrocha
espalhando óleo no seu rosto ensombrado.
O amor que finda nos definha em mágoa
para explodir petúnias na paixão que chega.
EM RESPEITO AOS QUE RETORNAM
Voltar,
quando o portão é rosto amigo,
as avencas um tempo que cresceu
ou quando mangas já derramaram
resinas nas rosas que ficou.
Voltar,
sempre poder voltar,
por mais que essa distância
seja um sol que muitas léguas
ou espinhos que brotaram.
Voltar,
presa apenas no mormaço
de árvores abertas em leques,
voltar para reconstruir lugares
com o brilho que se trouxe.
Uma canção e um pecado
Gingas, em sono,
belo lutador sem armas,
bailarino noturno
que abraça as almofadas,
sonha nesta cantiga
para que meus dedos ouçam
a quietude de teus nervos,
para que eu veja
estampados no teu dorso,
pecados inconfessos de ontem.
*
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Página publicada em maio de 2022
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